terça-feira, 18 de novembro de 2008

II ENCONTRO DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA DA UFRJ

II ENCONTRO DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA DA UFRJ

DIA 24/11/2008 - A PARTIR DE 15 HORAS

Auditório Prof. Manuel Maurício de Albuquerque (CFCH)

Avenida Pasteur, 250 (ao lado do Banco Real) - Urca – Rio de Janeiro.

 

PROGRAMAÇÃO:

15 às 17 horas

Mesa Redonda I: “Educação e Formação de Professores como campo de pesquisa”.

“A importância da pesquisa na formação docente”

Prof. Dr. Rafael Straforini (IGEO/UERJ).

“Sentidos da formação docente: perguntas sobre o manual do professor de Geografia”.

Prof. Msc. Ana Angelita Rocha (Rede Municipal de Educação - Duque de Caxias).

“Formação de Professores de Geografia: Perspectivas da Educação Superior a distância”

Prof. Msc. Marcio Berbat (FE/UFRJ).

17:15 às 18:15 horas

Homenagem aos professores co-orientadores do estágio supervisionado.

18:30 às 20:30 horas

Mesa Redonda II: “Inclusão e Práticas de Ensino de Geografia”.

“Ensino de Geografia na educação especial”

Prof.ª Luciana Arruda (Instituto Benjamin Constant - IBC).

“Ensino de Geografia no Brasil e as relações raciais”

Prof. Dr. Renato Emerson dos Santos (FFP/UERJ).

“Ensino de Geografia na Educação de Jovens e Adultos: dilemas e perspectivas”

Prof. Dr. Enio Serra (FE/UFRJ).


ORGANIZAÇÃO:

Prof. Enio Serra

Prof. Leonardo Neves

Prof. Márcio Berbat

Monitor Pedro Henrique Gomes

 

APOIO:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CFCH - FE - DEPARTAMENTO DE DIDÁTICA

CCMN -  IGEO – DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Simpósio de Estudos Contemporâneos: Oriente-Médio e África

Na última semana de novembro será realizado o Simpósio de Estudos Contemporâneos no campus da Praia Vermelha (UFRJ) - Av. Pasteur, 250 - Auditório do CFCH. Mais informações no blog do evento: http://www.simpec.blogspot.com.

As inscrições para trabalhos já foram encerradas mas ouvintes ainda podem se inscrever pelo e-mail simpec2008@hotmail.com

A programação do evento pode ser acessada pelo link --> ISIMPEC2008
Segue o cartaz do evento. Até!




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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cegos que guiam cegos

O texto de Renato Suttana e a pintura de Pieter Bruegel mostram (nas postagens abaixo), ambos, o quanto a cegueira é perigosa. Quem nos guia? Para onde nos guia? Sob que pretexto o faz? Por que o(s) seguimos?
Na pintura de Pieter Bruegel, por exemplo, vemos que o líder leva os seus seguidores para a sarjeta. O olhar de surpresa do já caído e o olhar de confiança do último da fila demonstram o despreparo e a fragilidade das certezas que construíram em torno de uma fé pretensamente – e de igual maneira – cega. Não gostaria, entretanto, que se pensasse que essa alegoria fosse uma alegoria da atualidade. Ao contrário, acredito que a cegueira cuja imagem representa foi abandonada nas trincheiras do passado. Creio, porém, que ela se torna um ponto de reflexão sobre tudo aquilo que construímos sem às vezes pensarmos com a mesma dedicação que agimos. As convicções filosóficas, políticas e ideológicas, contempladas como verdades são tão perigosas quanto a ignorância, ou ainda, são o reflexo distorcido desta. Esses pequenos castelos de areia não duram a breve garoa. Além disso, o esgotamento da satisfação intelectual em detrimento de uma satisfação documental é outra cegueira, a cegueira acadêmica de Renato Suttana, a cegueira curricular, da quantidade e da ignorância em seu sentido pleno. A fragilidade desses castelos, desses cegos, é talvez a fragilidade de nosso espírito, de nossas aspirações, de nossos desejos. É o esforço de por somente alguns raros momentos tirarmos nossas cabeças do atoleiro em que nos encontramos e vicejarmos algum futuro mais digno para nós.

E você, o que pensa? É mais um cego do castelo? Comente.
Até!

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Pieter Bruegel - A parábola do cego


Jesus disse aos seus discípulos que não era necessário lavar as mãos antes de comer. Escribas e Fariseus que ouviram esta história ficaram enfurecidos, já que isto era uma clara quebra das regras judias. Quando os discípulos informaram Jesus sobre o ocorrido, ele redargüiu que os Fariseus eram cegos guiando cegos, e tudo que eles acabariam por fazer seria levar a todos para a sarjeta.

A pintura de Pieter Bruegel retrata a história de forma literal. As expressões nos rostos variam da confiança à surpresa e ao choque. E a igreja ao fundo enfatiza a mensagem de Bruegel: não siga cegamente líderes que guiam você para longe da igreja, ou você acabará com problemas.

Extraído e traduzido de http://www.artbible.info

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Cegueira Acadêmica

Por Renato Suttana*

 

Qualquer um que tenha alguma experiência com pesquisa acadêmica deverá ter experimentado, pelo menos uma vez, a impressão de que produzir conhecimento – conforme a peculiar expressão utilizada pelas agências de fomento – não é exatamente produzir novidade e, muito menos, produzir alguma coisa que interessa aos ouvidos alheios. Não faz muito tempo tive oportunidade de apresentar, num congresso em Ouro Preto, uma comunicação cujo tema era a obra da escritora paulista Hilda Hilst para uma audiência de cinco estudantes de graduação que por acaso não conheciam nada de Hilda Hilst. Evidentemente a comunicação, que pressupunha, da parte dos ouvintes, um conhecimento prévio da obra da escritora, não pôde acontecer como tal. Percebendo que pouco adiantaria discorrer sobre determinado aspecto dessa obra diante de pessoas que sequer tinham ouvido falar dela, fui obrigado a mudar de estratégia. Abandonando o tema que me propusera a desenvolver, passei a fazer uma apresentação mais primária dos escritos da autora, discorrendo sobre os títulos e o conteúdo de seus livros em detrimento da crítica dos mesmos. De certo modo, se o objetivo dos congressos é, de fato, auxiliar na disseminação do conhecimento e criar oportunidades de compartilhá-lo, minha tarefa se cumpriu ali, pois algum serviço prestei às estudantes. Entretanto certo sentimento de frustração não pôde ser evitado, já que, para fazer o papel de propagandista da autora ou para falar de assuntos que poderiam ser facilmente encontrados em orelhas de livros ou na Internet, eu não precisaria ter ido a Ouro Preto.

 

A própria expressão que se usa hoje em dia para designar o tipo de trabalho que se pode realizar no campo da pesquisa em ambientes acadêmicos – produção de conhecimentos (ou, piormente, produção intelectual) – já denuncia o estado de coisas a que quero aludir. Uma vez que o saber se torna cada vez mais passível de quantificação e uma vez que o número tende a dominar todos os setores da vida profissional (quantidade de dias trabalhados, quantidade de escritos publicados, quantidade de eventos freqüentados), não há senão que esperar a frustração. Tendo a contabilidade invadido todos os recessos da vida mental, e esforçando-se cada indivíduo para modelar sua carreira e conduzir suas ações segundo os parâmetros da numerologia dos currículos, seria difícil esperar que do automatismo – e das esperanças que se depositam nele – surgisse algo menos que uma monstruosidade. Seqüestrados, subjugados, submetidos por todos os lados pela lógica da quantidade, saímos a campo para conquistar um espaço, e aquilo que conquistamos não vem a ser um retrato do que somos realmente, mas uma prova de que, de alguma maneira, descobrimos um modo de lidar com a situação e principalmente de fazê-la trabalhar a nosso favor. E, se no âmbito das compensações imediatas (sejam elas de caráter moral ou material) nos sentimos pagos e realizados, isso nada tem a ver com a idéia de que os nossos atos se tornaram projeções reais de um modo de ser que, fomentado pela academia, teria atingido uma consistência qualquer no fluxo do tempo e das coisas. Pelo contrário: é apenas prova de que ainda estamos longe da verdade e que há muito por fazer, só não havendo – desde que foi aberto o dique da numerologia – limites para a insatisfação.

 

Uma das conseqüências da invasão da academia pelos números é – conforme o episódio do congresso me ensinou – o que se poderia chamar de uma perda do senso de proporções e da capacidade de avaliação fidedigna das coisas. Numa época em que a produção de mercadorias tende a crescer vertiginosamente e em que não há nada a que não se possa aplicar um preço, a universidade e tudo o que se liga a ela não pode ficar inerte. Aos poucos, aqueles que participam dela imediatamente – professores, alunos, funcionários – assistem à sua própria transformação em peças de uma burocracia que os leva para todos os lados sem que possam, como indivíduos, impor qualquer direção ao seu destino. E é isso que devemos considerar como sendo o coroamento de séculos de esforços e de efetivaprodução de saber, isto é, uma grande máquina bem azeitada que funciona à revelia de todos e em cujo funcionamento depositamos nossa confiança, na expectativa de que por si só nos levará a bom porto.

 

Por certo, nunca se pensou tanto, se ensinou tanto e se escreveu (e publicou) tanto como na época atual, mas esse pensar, esse ensinar e esse escrever parecem ter gerado também um volume considerável de produções excrescentes. Tal como manchas de musgo na superfície de um muro denunciam a presença de umidade, seria interessante perguntar também se as excrescências indicam alguma coisa ou se são apenas um subproduto indesejável. Seria justo pensar que no estágio atual da produção do saber um acentuado processo de fragmentação e de conversão do conhecimento em mercadoria vendável se encontra em andamento, e num sentido muito mais profundo do que aquele que há em dizer que a universidade apenas espelha (e reproduz) em seu interior o processo mais amplo da vida no mundo. Se os professores (e demais participantes do teatro acadêmico) estão aprendendo a cada dia a se tornar competidores e se estão descobrindo que é preciso, sobretudo, de qualquer maneira, “derrubar a concorrência”, uma das causas está no modo como a vida universitária se configura atualmente. E, se não basta apenas dizer que somos levados de roldão, isso também não nos isenta da responsabilidade – mas é exatamente a capacidade de arbítrio do indivíduo que tem sido, pouco a pouco, solapada pelas estruturas do anonimato e do número.

 

Aquilo que as produções excrescentes significam não poderia ser descrito apenas como sendo o sentido mesmo de existir da academia, desde que as admitimos como excrescências e não como o objetivo principal da produção. Mas, se não podemos dizer que elas não têm um sentido, precisamos concordar que assim mesmo elas apontam para o processo mais amplo de que são apenas o sintoma, participando dele de uma maneira mais profunda do que tendemos a crer. Concorrem, por assim dizer, com (qualquer que seja ele) o objetivo final do processo ou caminham ao seu lado. E então não seria incorreto dizer que, mesmo excrescentes, elas têm afinal alguma utilidade. Muita gente hesitaria em concordar que determinadas pesquisas atuais, incluindo-se teses e trabalhos que são publicados cotidianamente, possam ter qualquer serventia. Quem nunca encontrou numa revista algum artigo sobre, digamos, o emprego da palavra pedra na poesia de Carlos Drummond de Andrade, ou do termo travessia e equivalentes na obra de João Guimarães Rosa, ou sobre o tema da intertextualidade e seus correlatos nos escritos de fulano? Alguém poderia se lançar de ânimo puro à pesquisa do sentido da palavra seda na poesia de João Cabral de Melo Neto, sem se dar conta de que o mesmo estudo que se escreve sobre tal palavra poderia ser escrito também sobre as palavras lâminasol e mar nessa poesia, condenando-se assim, desde o início, a não chegar a lugar nenhum. Evidentemente não estou a negar que, estudando esses temas, se possa obter, apesar de tudo, alguma relevância. Mas essa relevância dependerá muito mais do talento individual de quem se arrisque ao empreendimento do que das condições que por acaso o propiciem, sejam elas quais forem. A academia – que leva fulano ou sicrano a tomar esta ou aquela iniciativa e a se comportar desta ou daquela maneira diante de sua própria pretensão ao conhecimento – se encarrega ela mesma de abençoar ou de descartar o que não faz sentido ou foi produzido apenas para fins protocolares, e os periódicos estão aí para comprová-lo. A construção da carreira, porém, muito mais sólida do que as bases em que se fundamenta, não se comporta do mesmo modo, sendo preciso, em geral, um golpe de vista muito mais apurado para se perceber esse fato – e mesmo assim com o risco de que só muito tardiamente venhamos a percebê-lo.

 

É claro que, se as coisas ficassem nisso, não teríamos tanto do que nos queixar, pois, depois de produzido o perfunctório, o tempo pode muito bem se encarregar de fazer a triagem. As complicações começam quando do terra-a-terra das ilusões acadêmicas básicas – a idéia de que a construção do currículo pessoal patenteia um real mérito do indivíduo e não a sua simples ambição de ostentar um mérito que futuramente poderia converter-se em vantagens de carreira – se passa para o jogo mais agressivo da competição profissional, a ocorrer no ambiente imediato de trabalho. Neste ponto, a cegueira acadêmica atinge o seu extremo, impossibilitando-nos de enxergar o momento em que os vários planos – ambição profissional, mérito intelectual, relevância da atuação acadêmica – se confundiram. Chamo de cegueira o fato de que a academia, a viver de uma atividade mental incessante, se torne muitas vezes no ambiente menos propício ao exercício de qualquer atividade intelectual que mereça esse nome, ou que se configure como o ambiente onde a última coisa que se deve fazer é pensar. Schopenhauer escreveu sobre isso com memorável azedume. Ao assinalar que, no campo da filosofia, os pensadores verdadeiros “têm pelo menos uma opinião decisiva [...] sobre cada problema da vida e do mundo, e assim não precisam indenizar ninguém com frases vazias”, afirmou que os filósofos de cátedra, “que sempre são vistos comparando e ponderando opiniões alheias, em vez de se ocupar com as próprias coisas”, agem como se falassem “de países longínquos, a respeito dos quais se teria de comparar criticamente os relatos dos poucos viajantes que lá estiveram, mas não do mundo efetivo estendido e posto claramente diante deles”. Poderia ser argüido que o depoimento de Schopenhauer não tem validade neste ponto, pois é perpassado de um ressentimento pessoal que compromete a objetividade de sua avaliação. Mas como negar que, qualquer que seja a área, em sua ambição de produzir a inteligência, a academia se tenha tornado também num ambiente propício à gestação da vaidade, do sentimento de competição e, sobretudo, numa incansável máquina de alentar o mau-caratismo (este último por sua vez muito pouco disposto a ser corrigido pela simples listagem de títulos ou pela exposição na Internet de longos currículos que impressionam muito mais pelo fato de serem longos do que pelo que quer que tenham a dizer sobre os méritos efetivos de quem se acha neles retratado)?

 

Não há negar que as exceções são muitas. E não queremos fazer julgamentos de ordem moral, pelo menos antes de termos analisado os fatos. Se pudermos nos contentar com a idéia de que a cegueira acadêmica, conduzindo à perda do senso de proporção, ajuda a acentuar também o sentimento de impotência individual, devemos crer que um de seus efeitos é o surgimento de nichos, de verdadeiras rachaduras no tecido burocrático onde cada um se ajeita como pode. É no espaço da mais extrema racionalidade que os procedimentos de acomodação mais parecem pulular. Também não se trata de dizer que tudo seja acomodação. Entretanto quando, digamos, um professor se vale de seu título para impor certo tipo de autoridade a seus alunos (diferente, pois, da autoridade que deveria emanar naturalmente da relação que se estabelece entre educador e educando em sala de aula) ou para “aterrorizar” os seus pares ou os próprios agentes da rotina escolar a partir do suposto prestígio que lhe concede a detenção do saber, fechando as portas ao diálogo, ou quando se convence de que o título o torna imune a qualquer crítica ao seu trabalho, não podemos pensar de outra forma.

 

Recentemente me dei ao (enorme) trabalho de participar de um concurso para professor adjunto na área de literatura promovido por uma universidade pública brasileira. Dentre os dezenove pontos da ementa, tive de ocupar-me, durante quase dois meses, de estudos que incluíam, entre outros não menos exaustivos, os seguintes assuntos (cada um deles vasto o suficiente para em si mesmo justificar todo um procedimento de concurso): gêneros literários: linhas de continuidade e ruptura; mimesis e verossimilhança na narrativa literária moderna; formalismo russo: a noção de estranhamento; New Criticism: os princípios de interpretação do poema; estruturalismo: a imanência do texto literário; prosa e poesia no romance de José de Alencar; a questão da onisciência no romance de Eça de Queirós; a ambigüidade do narrador no romance de Machado de Assis; a poesia do cotidiano de Manuel Bandeira; a heteronímia poética de Fernando Pessoa; lirismo, ironia e reflexão na poesia de Carlos Drummond de Andrade; forma e lirismo em João Cabral de Melo Neto; universalidade e regionalismo no romance de Graciliano Ramos; a moderna narrativa psicológica de Clarice Lispector; epos e romance em Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa. Seria, pois, de perguntar se a uma banca avaliadora composta apenas de três membros – conforme observei durante as provas – era possível tamanho domínio de saber ou, pelo menos, um domínio satisfatório de todos esses setores dos estudos literários, considerando-se que as provas seriam aplicadas a candidatos que, supostamente, poderiam ter o mesmo grau (ou pouco menos) de formação acadêmica que os avaliadores. Não se trata de julgar a capacidade ou incapacidade dos avaliadores para esse empreendimento, mas não posso deixar de me perguntar se não estaria em curso ali também um evidente processo de acomodação às circunstâncias, no qual, sendo impossível sequer reconhecer o tipo (e o grau) de conhecimento que se queria avaliar, o carro teria de continuar em movimento assim mesmo, com todos os obstáculos do percurso, porque no final sempre se chega a algum lugar? Mas não é exatamente aí que o edifício da racionalidade desmorona, convertendo-se em solo fértil para o afloramento das injustiças, do nivelamento por baixo e das adequações nem sempre claras às circunstâncias?

 

É de supor que, em situações como essas (do concurso e outras), dificilmente se poderia avaliar com precisão um mérito efetivo, qualquer que fosse ele. E, no entanto, não há nada mais justo do que a própria idéia do concurso público, regida ela mesma por rigorosas legislações e metodologias, as quais – num lance de prestidigitação característico da legalidade contemporânea – estão sempre abertas ao conhecimento de todos. Acontece que, quando a legalidade se converte em retórica, tanto pode se tornar vítima (ou refém) de si mesma quanto naufragar num verbalismo sem objeto, com as acomodações a bater à porta solicitando entrada. Num complexo de situações em que as questões éticas não podem ser debatidas, porque simplesmente não existem bases para que o sejam, a primeira solução é recorrer aos regulamentos e às normas, mas os regulamentos e as normas já fracassaram há muito tempo. Onde então a possibilidade do diálogo fundado em premissas que sejam realmente do conhecimento das partes? Não há dúvida de que a academia tem aspirado a isso, mas, uma vez entravada, uma vez enleada em mil obstáculos que brotam da própria tentativa de solucioná-los, só pode assistir à materialização de seus piores pesadelos – ela que, como ninguém mais, deveria estar aparelhada para prevê-los ou para nos ensinar a contorná-los.

 

Nos dias de hoje, os esforços de acomodação parecem ter invadido todos os recessos da vida acadêmica. Passando pelo estudante que plagia um texto da Internet e o encaminha ao professor como se se tratasse de produção original, pelas más condições de trabalho oferecidas aos professores (geralmente chamados “substitutos” ou “colaboradores”) que trabalham em instituições públicas sem pertencerem ao quadro efetivo de docentes, pelas regras oficiais de formatação de trabalhos em publicações que mudam constantemente porque isso estimula a venda de manuais, pelo pós-graduando que simplesmente “encomenda” uma tese a um profissional “especializado” em tais serviços, o que se vê é uma busca generalizada de sobrevivência a qualquer custo, e não tanto porque se optou pela lei do menor esforço, mas porque o estado de coisas é propício a tais soluções. Mesmo no âmbito da legislação é possível detectar o momento em que a solução se reverte em problema, como no caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais, redigidos num belo espírito de orientação humanista e emancipatória, mas sem que se levem em conta as reais condições de produção sobre as quais o ensino assenta na sociedade atual, a proibir qualquer tentativa de emancipação do indivíduo. Pode-se legislar no vazio ou fazer com que a grande máquina que é o ensino, profundamente comprometida com a crua realidade do mundo moderno, funcione a contra-corrente, levando à emancipação sem se emancipar ela mesma frente ao que a determina? Ignorar esses fatos é ignorar essa realidade. E então se corre o risco – conforme vem acontecendo nos últimos anos com o sistema de educação brasileira – de mergulhar mais fundo na enchente, sem qualquer perspectiva de emergir dela ou de estancá-la a curto prazo.

 

A sensação de que produzir conhecimento não se dirige hoje a ninguém pode ser apenas um efeito, e qualquer um sabe que não basta combater o sintoma para se atingir a raiz da doença. Ora, o termo produzir, no caso, deveria indicar, pelo menos, alguma forma de integração a qualquer coisa de mais amplo, configurada no sistema de ensino atual, implicando também a consciência que temos dessa integração. Mas às vezes nem isso acontece, como o demonstrou minha experiência do congresso em Ouro Preto (e outras experiências do mesmo teor) – uma gota de água, reconheço, num vasto oceano. É possível falar em reforma universitária, conforme a pauta contemporânea, sem se colocar em questão a idéia mesma de sistema de ensino ou sistema de produção de saber que fundamenta, de um modo ou de outro, e portanto dirige tal reforma? A pergunta, com o que tem de urgente e imperiosa, deveria, senão trazer pesadelos, ao menos tirar o sono daqueles que se preocupam com o assunto.

 

 

Publicado originalmente em Comunicações - Revista do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba, v. 12, n. 1, jun. 2005. p.114-119.

 

Reproduzido do site do autor: http://www.arquivors.com/cegueiraacademica.htm

 

Boa leitura. Até!

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Banco de teses

As universidades brasileiras possuem um vasto banco de teses e dissertações, as quais, em boa parte, estão disponíveis para download ou visualização, pelo menos as mais recentes. Há também a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, a qual já conta com quase oitenta instituições parceiras, incluindo as principais universidades do país. Além disso, portais como o da PORTAL-CAPES possibilitam o acesso a muitos periódicos do Brasil e do Mundo, apesar de que os arquivos completos somente podem ser acessados de forma gratuita dentro de universidades públicas brasileiras. Abaixo seguem alguns links de bibliotecas digitais de universidades públicas...

 

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP 

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG 

Banco de Teses da UFRJ

Repositório Digital de Teses e Dissertações da UFRGS

Sistema de Publicação de Teses e Dissertações da UFAM

 

Aproveite, até!

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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Seminário "Cartografias sociais e território"

Nos dias 4 e 5 de Dezembro, na Casa da Ciência da UFRJ – Campus da Praia Vermelha (Rua Lauro Muller, 3 – Botafogo -  Rio de Janeiro) acontecerá o Seminário Cartografias Sociais e Território. O evento contará com pesquisadores de vários estados brasileiros. “O ETTERN – Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza do IPPUR/UFRJ organiza o Seminário ‘Cartografias sociais e território’ no âmbito da pesquisa ‘Experiências em cartografia social e constituição de sujeitos nos conflitos ambientais’. Este seminário visa fazer um balanço das distintas iniciativas de inclusão de populações locais nos processos cartográficos no Brasil, bem como discutir as estratégias, os quadros conceituais e metodológicos que orientam tais experiências.”

***

Veja a programação do evento:

 

Quinta-feira, dia 4 de dezembro de 2008
 
9h00 - Abertura
 
9h30 às 12h00 – Mesa 1: Cartografia social e mapeamento participativo no Brasil – um panorama
Henri Acselrad (IPPUR/UFRJ), Alfredo Wagner de Almeida (UFAM) , Cloude de Souza Correia (IEB)
 
13h30 às 15:30h – Mesa 2: Cartografias e tramas territoriais: contextos jurídico-político-fundiários e étnicos dos mapeamentos 
Coordenador/debatedor: Frederico Araújo (IPPUR/UFRJ)
Juracy Marques dos Santos (UEBA), Marcelo Moreira  (FVA-Fundação Vitória Amazônica), Guilherme Carvalho (FASE-Belém)
 
15h30 – Intervalo
 
16h00 às 18h00 – Mesa 3: Financiamento, produção e controle da informação espacial – de quem é o  mapa?
Coordenador/debatedor: Carlos Vainer (IPPUR/UFRJ)
Jefferson de Oliveira Salles (ITCG/Paraná), Franklin Plessmann de Carvalho(UFBA), Aurélio Vianna (F. Ford)
 
18h00 – 19h00 – Vídeos:
1.      Mapeamentos Participativos e Povos Indígenas: passo para autonomia ou sujeição à tecno-ecocracia?
2.      Amazônia – uma nova cartografia - Iauaretê
 
Sexta-feira, dia 5 de dezembro de 2008
 
9h00 às 11h00 – Mesa 4: Técnicas de representação espacial e participação 
Coordenador/debatedor: Jean Pierre Leroy (FASE)
Julio Macuxi (Conselho Indígena de Roraima), Antonia Pereira Martins(FVPP/Altamira), Jeovah Meirelles (UFC)
 
11h30 às 12h30 – Mesa 5: Mapeamento do  território e organização da sociedade 
Coordenadora: Ana Daou  (Geografia/UFRJ)
Roberto Martins de Souza (CEMPO/Guarapuava), Ricardo Folhes (Saúde e Alegria/Santarém), Renata Alves (ISA)  
 
14h00 – 15h30 Continuação da mesa 5: Mapeamento do  território e organização da sociedade: experiências na cidade e no campo
 
15h30 - Intervalo
 
16h00 – Planos diretores e mapeamentos participativos urbanos
Coordenador: Fabrício de Oliveira (IPP)
Carlos Matos (Plano Belterra-PA), Rodrigo Marcelino (ICV-Alta Floresta),Solange Gayoso (NAEA/UFPA),
 
18h00 Debate geral/encerramento
 

Inscrições: enviar nome, profissão, instituição e e-mail para:

seminariocartografiasocial@yahoo.com.br

 

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O jornalista Luiz Weis comenta a eleição americana

Duas visões da vitória de Obama

Por Luiz Weis em 10/11/2008

Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br

 

Deu nos jornais. Há poucas semanas, a deputada republicana Michele Bachmann, de Minnesota, disse na televisão que estava “muito preocupada” com a possibilidade de Obama ter “idéias anti-americanas”. No dia seguinte à eleição, ela se declarou “extremamente grata por termos um presidente afro-americano”. A vitória de Obama, exultou, “foi um tremendo sinal que nós mandamos.”

Se fosse mais uma das incontáveis cenas explícitas de adesismo que os políticos se permitem o tempo todo em toda parte (Mangabeira Unger e Eduardo Paes em relação a Lula, por exemplo, guardadas as devidas), o episódio não serviria de gancho para espetar nele um comentário – ou uma provocação – sobre o que parece a este blogueiro um dos aspectos mais interessantes da eleição americana de que a imprensa mundial se ocupou, com pencas de fatos e argumentos, mas, salvo engano, sem parar para discuti-los.

A deputada, a rigor, não aderiu a Obama. O que ela queria, segundo uma interpretação, era “não ficar no lado errado da história”. Isso deve ser verdade também para aqueles americanos que, a julgar por suas manifestações dos últimos dias, sonhavam desde criancinha com a eleição de um negro para a Casa Branca – e com os quais não se devem confundir os milhões de pessoas, dentro e fora dos Estados Unidos, que torciam ardentemente por ele e acham que o mundo ficou melhor depois da maior das terças-feiras da história da América.

Mas não é nem disso que se trata exatamente. O ponto – que remete aos tais fatos e argumentos que inundaram a mídia, sem que ela os tivesse posto em debate – está no fecho da fala da senhora Bachmann.

Repetindo: “Foi um tremendo sinal que nós enviamos”.

Então lá vai: “Nós” quem, cara-pálida?

”Nós”, evidentemente, seriam os Estados Unidos da América – os seus valores de berço com os quais o país, sem distinções, se reencontrou elegendo Obama. Não foi ele próprio quem disse, no discurso de vitória, que a América “é o lugar onde tudo é possível”?

Ou, no título do editorial da edição do último domingo do Observer, de Londres: “A América restaurou a fé mundial nos seus ideais”.

Aceitar esses enunciados pelo seu valor de face implica, primeiro, passar batido pelo fato de que esses ideais – “democracia, liberdade, oportunidade e inabalável esperança”, Obama, no mesmo discurso – conviveram durante 76 anos (de 1787, quando foi promulgada a Consitutição de Filadélfia, a 1863, quando acabou a Guerra Civil) com a escravidão legal e, depois, durante mais de um século com a segregação racial, aberta ou disfarçada, em muitas partes da América.

É fato histórico que, entre abolir a escravidão e garantir a unidade das 13 colônias que viriam a formar os Estados Unidos, os “pais fundadores” escolheram a unidade.

É fato histórico ainda que eles adotaram um sistema político – o do voto majoritário, ou distrital, para a eleição do Congresso, combinado com a escolha em última análise indireta do presidente da República – concebido para barrar a ascensão ao poder das minorias, quaisquer que fossem. E adotaram um sistema eleitoral feito para desestimular os mais pobres a votar [“O voto americano visto do Brasil”, neste blog].

Mas é fato histórico também que, em matéria de liberdades individuais, a começar da mais essencial delas, a de expressão, nenhum país iguala os Estados Unidos.

A América, escreveu na semana passada o historiador e jornalista holandês Ian Buruma, “representa o que o combalido mundo ocidental tem de melhor e de pior”. Pura verdade. Mas, de repente, é como se o pior se tivesse evaporado.

Em segundo lugar e mais prosaicamente, aceitar o enunciado de que “a América” elegeu Obama faria sentido se ele devesse a sua vitória a uma maioria homogênea, ou quase isso, de eleitores. Não foi assim: quem deu a Obama 65,4 milhões de votos (ante 57,4 milhões para McCain) foi uma determinada América – a coalisão de negros, jovens, mulheres e hispânicos das grandes cidades.

As pesquisas de boca-de-urna (depois da votação) revelaram que votaram em Obama 95% dos negros, 70% dos moradores das metrópoles, 66% dos jovens de 18 a 29 anos – o grande exército mobilizador de recursos e eleitores, via internet –, 66% também dos hispânicos e 56% das mulheres.

A propósito, dos eleitores de primeira viagem, 7 em 10 votaram em Obama.

Se dependesse apenas do voto masculino, não se sabe no que daria a eleição. Foram 49% para Obama, 48% para McCain. Se dependesse apenas do voto branco, daria McCain por 55% a 43%. Embora, proporcionalmente, mais homens brancos votaram em Obama do que em qualquer outro candidato democrata desde Jimmy Carter (1976), Bill Clinton incluído.

Além disso, Obama ganhou no Nordeste, no Meio-Oeste e no Oeste. Perdeu no Sul (Arkansas, Oklahoma, Louisiana, Tennessee, Missisippi, Alabama, Georgia e Carolina do Sul), ainda que tivesse obtido uma vitória histórica – com perdão pelo adjetivo – na Carolina do Norte.

A coalisão pró-Obama foi também uma coalisão de motivações – o que a ênfase no “voto da América” que percorre a mídia torna mais difícil discernir.

Os negros votaram em Obama, antes de tudo, porque era o primeiro deles escolhido candidato por um dos dois grandes partidos nacionais, portanto o primeiro a ter chances reais de chegar lá.

O mestiço Obama, no Brasil, seria mulato. Nos Estados Unidos de duas cores, negro. E, como tal, os negros o encamparam. Perguntado, depois da vitória, se preferia se referir a Obama como meio-branco e meio-negro, ou simplesmente negro, um barman de Washington respondeu: “Negro. Porque significa mais.”

Não menos revelador – e neste caso também por relativizar a teoria de que “a América” elegeu Obama – foi um comentário recolhido pelo correspondente do Globo em Washington, José Meirelles Passos, em Birmingham, Alabama.

“Sempre houve, no fundo, a sensação de que os negros não podiam ser parte do povo americano, e muito menos do sonho americano”, disse-lhe Jacqueline Wood, diretora-assistente do Programa de Estudos Afro-Americanos da Universidade do Alabama. “Nós estávamos sentados na cozinha. Agora passamos para a sala de visitas.”

Os jovens votaram em Obama principalmente por se identificar com o mais inspirador (“Yes, we can”) dos políticos americanos desde John Kennedy e decerto o mais singular deles: pelas origens, trajetória, personalidade, estampa – e coolness.

Também junto às mulheres funcionaram as suas “armas de atração em massa”. Com uma particularidade que, de novo salvo engano, só foi destacada na imprensa graças a um artigo no New York Times da sexta-feira, 7, pelo sociólogo jamaicano Orlando Patterson, da Universidade Harvard.

”Essa campanha, de maneira notável, foi uma reencenação da inteira e entrelaçada luta de negros e mulheres pela inclusão política”, observou. “A primeira vez que rejeitaram o seu confinamento ao papel de virtuosa maternidade na esfera privada no início da República foi ao liderar o combate muito público pela abolição da escravatura.”

As conquistas negras sempre pressagiaram os avanços femininos, lembra Patterson, “embora não sempre pelos motivos mais nobres”. Ou seja, o movimento pela emancipação das mulheres se nutria da seguinte rationale: afinal, se os negros podem votar, podem encontrar na lei proteção contra a discriminação e disputar cargos eletivos, por que não nós, mulheres?

A partir dos anos 1980, pela primeira vez desde que conquistaram ao voto, as mulheres passaram a votar proporcionalmente mais do que os homens e mais candidatos progressistas.

”Em termos demográficos crus, o mais importante fator da vitória de Obama foi a margem de 13 pontos a seu favor no eleitorado feminino”, assinala o sociólogo.

De fato, a vantagem de Obama foi relativamente maior entre os mais jovens. Mas estes são apenas 18% do eleitorado. Vale para os hispânicos: como os jovens, 2 em cada 3 deles votaram em Obama, mas representam somente 8% do eleitorado. Já as mulheres (56% pró-Obama) pesaram mais porque são 53% do eleitorado.

E os trabalhadores brancos, aqueles a quem, nas prévias do Partido Democrata, e no seu pior momento, Hillary Clinton pediu o voto com uma mensagem que se curvava ao seu preconceito (”Hard-working Americans; White hard-working Americans…”)? O que levou sabe-se lá quantos deles a votar em Obama?

A resposta, numa palavra, parece ter sido a crise. Como se tivessem posto num dos pratos da balança o medo de ter um presidente negro, no outro o medo de ter um presidente branco incapaz de salvá-los do naufrágio econômico.

O New York Times ouviu um deles, no subúrbio de Levittown, Pensilvânia (Estado em que McCain investiu pesadamente, em vão, na reta final da campanha). O técnico em ar-condicionado Joe Sinitski disse ao repórter Michael Sokolove:

”Durante muito tempo eu não podia ignorar o fato de que Obama é negro, se é que me entende. Não me orgulho disso, mas fui criado a pensar que não há negros bons. Eu podia ver que ele é muito inteligente, e isso conta para mim, mas meu instinto ainda era o de fechar com o branco. Mas, quando ele escolheu [a governadora do Alasca] Sandra Palin para vice, com todos os problemas que a gente tem, isso não mostrou inteligência da parte de McCain. Não dizia coisa boa dele em geral.”

O interesse próprio prevaleceu sobre o racismo, em suma.

O que vai acontecer com o racismo americano não se pode prever. O lugar-comum que se encontra numa página dos jornais e na outra também é que o próprio triunfo de Obama – e a sua repercussão mundial sem paralelo – funciona por si só como um breve contra o preconceito.

Tomara. Afinal, o homem tem uma capacidade única de fazer com que as pessoas ponham para fora o que têm de melhor. A euforia dos europeus, por exemplo, é o reverso da medalha da hostilidade européia aos imigrantes, principalmente de pele escura.

Mas, nos Estados Unidos, há apenas quatro meses uma pesquisa nacional mostrou que apenas 30% dos eleitores brancos diziam ter uma opinião favorável de Obama. E mais: cerca de 60% dos entrevistados negros – e não mais de 34% dos brancos – achavam que as relações raciais no país são em geral ruins.

A pesquisa revelou que muitos padrões raciais na sociedade americana permanecem intocados nos anos recentes. Muito pouco mudou no componente racial da vida cotidiana no país desde 2000, quando o New York Times publicou uma série de reportagens intitulada “Como a raça é vivida na América”.

Exemplo: mais de 40% por cento dos negros americanos acham que foram parados pela polícia por causa da cor de sua pele, a mesmo índice de respostas da pesquisa de oito anos atrás.

”Devagar com o andor pós-racial”, escreveu na Folha o correspondente Sérgio Dávila. “Os Estados Unidos mudaram, os novos eleitores e os eleitores novos ajudaram a eleger Barack Obama – mas foi preciso uma crise econômica sem precedentes e o equivalente ao gênio negro na política concorrendo para que isso acontecesse.”

Toda eleição, obviamente, tem a sua circunstância. A desta, nos Estados Unidos, se chamou George W. Bush, atolando os americanos em duas guerras, nos maiores índices de pobreza e desigualdade desde os impropriamente chamados Anos Dourados (a década de 1920), e, enfim, no colapso financeiro e na recessão.

Foi o que decidiu a parada em favor de Obama. Antes do derretimento de Wall Street, não custa lembrar, ele e McCain estavam cabeça a cabeça nas pesquisas.

Então, uma coisa é dizer que Obama encarna o que a América tem de melhor ou que a América ficou melhor com a sua vitória. Outra coisa é dizer que o resultado eleitoral comprova a excepcionalidade dos Estados Unidos, o poderio incomparável de seus valores.

A imprensa ficou devendo um debate sobre essas duas visões – um debate, em suma, sobre a democracia na América.

 

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Agora cabe a pergunta: O que há de tão importante na eleição norte-americana para nós brasileiros?

Uma pergunta que reside na ampla cobertura das eleições (incluindo as prévias) norte-americanas, na grande repercussão da eleição de Obama e sua representação quase heróica.

O artigo de Luiz Weis prima pela sua observação crítica das eleição. Ele revela através dos dados eleitorais os meandros não-comentados pela imprensa.  Mas a pergunta continua...

E você o que acha?

Até!

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Aziz Ab'Saber comenta sobre o aquecimento global

ENTREVISTA

Opinião divergente

Aziz Nacib Ab'Sáber, geógrafo brasileiro, acredita no aquecimento global, mas adverte que há muito desconhecimento sobre como suas conseqüências podem afetar o país

Por Dante Grecco

Revista National Geographic - 09/2007

 

Desde que o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) divulgou seu terceiro relatório, em maio, as discussões sobre o aquecimento global pegaram fogo. Alguns cientistas afirmaram que o painel da ONU foi cauteloso demais - o futuro do planeta pode ser ainda mais sombrio. Outros discordam dessas conclusões e advogam contra o exagero e o alarmismo. Nesse time joga o geógrafo brasileiro Aziz Nacib Ab'Sáber. "É claro que não nego o aquecimento global. Mas há muito desconhecimento sobre como suas conseqüências podem afetar o Brasil", adverte ele.

Formado em geografia pela USP em 1944, especialista em geomorfologia e considerado um dos mais importantes ambientalistas do país, o professor Aziz conhece como poucos a paisagem natural do Brasil e suas relações com o clima. Às vésperas de completar 83 anos, tem cerca de 300 artigos publicados, escreveu oito livros, deu aulas em várias universidades e, entre outros cargos na academia, foi presidente executivo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entre 1994 e 1995. Mesmo aposentado, todas as noites comparece ao Instituto de Estudos Avançados da USP, onde é professor honorário, e vibra como um pesquisador iniciante ao mostrar mapas e imagens do Nordeste feitas por satélite.

Por que o senhor afirma que o aquecimento global não destruirá a Amazônia nem a mata Atlântica?

Houve muito alarmismo nessa questão. Embora algumas afirmações tenham sido feitas por bons cientistas, muitas conclusões foram divulgadas de forma equivocada. Logo me irritou a afirmação de que a Amazônia desaparecerá e o cerrado tomará conta de tudo. Como há décadas estudo o problema das flutuações climáticas e o jogo do posicionamento parcial dos grandes domínios geográficos brasileiros, senti-me ofendido culturalmente. Não havia ciência na afirmação.

Sua teoria envolve uma mudança fundamental nas correntes marítimas, certo?

Em nosso litoral existe a chamada corrente tropical sulbrasileira. É uma corrente de águas quentes que desce desde o Nordeste oriental até o sudeste de Santa Catarina. Essa corrente tem um contrafluxo representado pela corrente das Malvinas, ou Falklands, que vem da Argentina, é composta de águas muito frias e segue quase até o Rio Grande do Sul.

Uma das conseqüências do aquecimento global é que essa corrente tropical sul-brasileira ficará mais larga, ocupará uma área mais afastada da costa e irá avançar mais para o sul do Brasil sobre a corrente fria. Portanto, essa corrente quente levará mais calor para as regiões localizadas entre a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul, que hoje vivem um conflito entre águas frias e quentes. Com essa massa de água quente que chegará, a evaporação será mais intensa. Podemos deduzir que vai haver maior penetração de umidade no continente.

 

"Não temos como avaliar quanto o mar vai subir nos próximos 100 ou 200 anos. Nesse período os continentes podem até abaixar mais ou se elevar novamente, como ocorreu depois do Plioceno. Se isso ocorrer, o mar irá recuar."

O que isso significará?

Com maior umidade, choverá mais. Por isso, nesse caso o aquecimento global não representará um aspecto negativo do ponto de vista da climatologia da fachada atlântica do Brasil. Portanto, não se pode dizer que a mata Atlântica será atingida por ele. Ao contrário. A tendência é que tanto a mata Atlântica como a Amazônia cresçam, e não que sejam reduzidas. Isso já aconteceu antigamente, num período entre 6 mil e 5 mil anos atrás chamado de optimum climático. Naquela época também houve um aquecimento do planeta, mas foi natural, e não causado pelo acúmulo dos gases na atmosfera, como hoje.

O que houve naquela época?

Entre 20 mil e 12 mil anos atrás, o planeta passou por um período de glaciação. Devido ao congelamento de águas marinhas nos pólos Norte e Sul, o nível dos oceanos era cerca de 90 metros mais baixo do que o registrado hoje. Depois disso, por volta de 11 mil anos atrás, houve um período de transição entre um clima frio e um mais ameno e ocorreu um ligeiro aquecimento da Terra. O frio intenso deu lugar a um clima mais tropical, como ocorria antes da glaciação. Com isso, as grandes manchas florestais, que haviam ficado distantes umas das outras naquele clima frio e seco, cresceram e se emendaram. A esse processo, que aconteceu principalmente na costa brasileira, eu dei o nome de retropicalização.

E o que aconteceu depois?

O planeta continuou a esquentar, embora houvesse variações de temperatura para cima ou para baixo. Com isso, boa parte do gelo que estava concentrado nas regiões polares se derreteu. O auge desse aquecimento se deu entre 5 mil e 6 mil atrás, no optimum climático. O aquecimento foi tal que o nível dos oceanos se elevou cerca de 2,90 metros acima do registrado hoje. Em minha interpretação, quando o mar subiu em conseqüência daquele aquecimento do planeta, ele trouxe mais umidade para dentro do continente.

 

Houve mais chuvas, o que favoreceu a continuidade das florestas. O optimum é uma fase da história climática do mundo que vários cientistas e o próprio IPCC não consideraram. Como naquele período nem a mata Atlântica nem a Amazônia desapareceram do mapa, não é certo dizer que até 2100 a Amazônia vai virar cerrado. O problema não é o que acontecerá daqui a 90 anos, e sim o que ocorre hoje.

Por quê?

A região amazônica tem 4 milhões de quilômetros quadrados e, em menos de 25 anos, perdeu 500 mil quilômetros quadrados de florestas. Isso significa que uma área equivalente a duas vezes o estado de São Paulo já foi destruída. É muita coisa. Ou seja, hoje Amazônia está tendo problemas de savanização devido à ação antrópica. Ocorrem desmatamentos ao longo das rodovias, dentro das selvas e junto das chamadas espinhelas de peixe, nome que os amazônidas dão aos imensos quarteirões ocupados por especuladores, os quais se mudaram de lá e venderam pedaços da mata a pessoas de muito longe que imaginaram ter uma fazendinha na região. Depois, essas pessoas liberaram as terras para os madeireiros, que arrasaram com tudo.

O senhor tem alguma outra divergência em relação ao que foi divulgado sobre o aquecimento global?

Sim. Uma coisa é o aquecimento global, outra é sua continuidade ou não ao longo dos anos. Os cientistas dizem que vai ser sempre assim. O planeta ficará cada vez mais quente. Com isso, o calor provocará mais derretimento de geleiras, o que aumentará ainda mais o nível do mar. E assim sucessivamente. Esse raciocínio é muito simplista. Não temos como saber nos próximos anos como o mar vai subir.

Portanto, também não temos como avaliar quanto ele irá se elevar daqui a 100 ou 200 anos. Nesse período os continentes podem até abaixar mais e as águas do mar, inundar zonas costeiras bem maiores. Ou o contrário. Eles podem subir, como ocorreu depois do Plioceno. E com isso o mar irá recuar. Didaticamente, eu fiz os cálculos para dez, 50 e 100 anos. Depois parei. Ainda há a questão das diferenças entre as marés baixa e alta. Na costa do Maranhão, por exemplo, essa diferença é de 8 metros. Tudo isso não foi considerado.

Mas não se pode negar que uma das piores conseqüências do aquecimento global será o aumento do nível das águas do mar.

A ascensão do nível das águas dos oceanos provocada pelo derretimento das geleiras polares e das geleiras das altas montanhas vai criar graves problemas na zona costeira do Brasil. São 8 mil quilômetros de litoral. A água deverá invadir diversas cidades litorâneas, como Santos, Rio de Janeiro e Recife, entre outras, criando mini-Venezas. Será preciso fazer pontes e diques na frente das praias e nas margens dos rios. A água vai também tomar conta das barras dos rios e alagar planícies rasas e manguezais, com prejuízos ambientais e econômicos.

O que o senhor sugere, diante do problema atual?

Disso tudo eu tirei uma conclusão. Primeiro, é preciso reduzir a emissão de gases particulados na atmosfera para mitigar o efeito estufa. Que fique bem claro que eu não discuto o aquecimento global. Depois, devem-se acompanhar os fatos ao longo de um certo espaço de tempo para avaliar todas as variações. A seguir, é fundamental um bom planejamento para evitar maiores conseqüências sobre as regiões costeiras, que serão as áreas mais atingidas.

O extremo sul do Brasil, por exemplo, vai ser pouco afetado, já que, com a suspensão das águas, deve acontecer o que ocorreu durante o optimum climático. A corrente marítima quente irá descer mais para o sul, levando maior umidade e, conseqüentemente, mais chuva para o interior do território.

"A alteração das correntes marítimas pode fazer com que aumente a umidade no processo de evaporação. Com isso, choverá mais. A tendência é que tanto a mata Atlântica como a Amazônia não sejam reduzidas devido ao aquecimento global."

Em junho, iniciaram-se as obras da transposição das águas do rio São Francisco, em Cabrobó, em Pernambuco. O senhor crê que ela vai matar a sede da população do Nordeste seco?

Fala-se que essa obra beneficiará cerca de 12 milhões de pessoas. Não acredito. Ela vai beneficiar principalmente os pecuaristas. O mais triste é que os donos das fazendas nem moram lá, mas sim em capitais como Fortaleza e Recife. A região do São Francisco é muito complexa. No Nordeste chove muito no verão e pouco no inverno, embora digam o contrário. É evidente que o Nordeste seco vai precisar de mais água quando o rio São Francisco, que passa em grande parte pelo cerrado de Minas Gerais e da Bahia, estiver mais baixo. Será justamente nessa época que o rio precisará jogar mais água para os eixos norte e leste que serão construídos até ela cair no açude de Orós. Aí surge um problema. As águas do São Francisco são poluídas e vão se encontrar com águas salinizadas do próprio açude. Ou seja, nessa época será preciso fazer uma transposição de águas maior do que a planejada.

Como assim?

Quem é a favor da transposição diz que o rio vai perder apenas 1,4% de suas águas após o término das obras. Mas é claro que no futuro essa porcentagem deve aumentar. Ou seja, serão transferidas mais águas do rio para os futuros eixos que vão ser construídos. Outro problema será manter as usinas hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó funcionando. Então, a época em que o rio receberá menos água vai ser a mesma em que ele deverá enviar águas para além da chapada do Araripe. Isso é um contra-senso, pois, quando estivesse chovendo lá, não seria preciso enviar água para a mesma região.

Quais são os impactos ambientais que a transposição pode causar?

Talvez o principal seja a poluição das águas. Vários afluentes do São Francisco vêm de Belo Horizonte, uma das maiores cidades do Brasil, e passam pela região industrial sidero-metalúrgica. Um deles é o rio das Velhas, por exemplo. O São Francisco tem 2170 quilômetros de extensão. Imagine a poluição que ele carrega nessa distância. Técnicos disseram que iam revitalizá-lo antes de fazer a transposição. Outro erro, pois não se pensou naqueles que têm só as margens do rio para plantar, como na zona semiárida das cidades de Ibotirama, Barra e Xique-Xique, na Bahia. Com a revitalização, eles perderão esses espaços.

Qual é a sua opinião sobre a afirmação do presidente Lula, em maio, de que os usineiros de cana são "uns heróis"?

Heróis são os cortadores de cana, que levam uma vida quase de escravo, e não os donos da terra. Por que o presidente Bush veio a São Paulo e não foi a Brasília? Porque os Estados Unidos sabem que o interior de São Paulo sempre teve culturas agronômicas importantes, hoje controla as maiores plantações de cana-de-açúcar do Brasil e que o etanol de cana vem sendo usado nos carros como combustível. Eles não têm esse know-how. Na verdade, os Estados Unidos precisavam incentivar o Brasil a ampliar sua área canavieira para poder vender mais tarde. Quem vai controlar o preço depois? Eles, é claro.

"É preciso reduzir a emissão dos gases que causam o efeito estufa. Depois, é necessário acompanhar os acontecimentos ao longo de um certo espaço de tempo para avaliar todas as variações."

O que pode acontecer em termos ambientais se o governo incentivar a produção de cana para depois produzir etanol?

É simples. Se o governo facilitar, a cana-de-açúcar será o mais novo produto a tentar se estabelecer na Amazônia. Sempre que se deseja ampliar as fronteiras agrícolas do país se fala na Amazônia. É como se lá houvesse um solo polivalente. Se o preço do etanol subir, vão tentar fazer novas penetrações na floresta. Além da agropecuária, dos madeireiros, dos loteadores e dos plantadores de soja, a Amazônia também poderá ter daqui a algum tempo os cultivadores de cana. Será que ela resiste?

 

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br

Boa leitura. Até!

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Versões do Capitalismo...

Para distrair... Até!

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CAPITALISMO IDEAL:

Você em duas vacas.

Vende uma e compra um touro.

Eles se multiplicam, e a economia cresce.

Você vende o rebanho e aposenta-se, rico!

 

CAPITALISMO AMERICANO:

Você tem duas vacas.

Vende uma e força a outra a produzir leite de quatro vacas.

Fica surpreso quando ela morre.

 

CAPITALISMO JAPONÊS:

Você tem duas vacas.

Redesenha-as para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam 20 vezes mais leite.

Depois cria desenhinhos de vacas chamados Vaquimon e os vende para o mundo inteiro.

 

CAPITALISMO BRITÂNICO:

Você tem duas vacas.

As duas são loucas.

 

CAPITALISMO HOLANDÊS:

Você tem duas vacas.

Elas vivem juntas, não gostam de touros e tudo bem.

 

CAPITALISMO ALEMÃO:

Você tem duas vacas.

Elas produzem leite regularmente, segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecido, de forma precisa e lucrativa. Mas o que você queria mesmo era criar porcos.

 

CAPITALISMO RUSSO:

Você tem duas vacas.

Conta-as e vê que tem cinco.

Conta de novo e vê que tem 42.

Conta de novo e vê que tem 12 vacas.

Você para de contar e abre outra garrafa de vodka.

 

CAPITALISMO SUÍÇO:

Você tem 500 vacas, mas nenhuma é sua.

Você cobra para guardar a vaca dos outros.

 

CAPITALISMO ESPANHOL:

Você tem muito orgulho de ter duas vacas.

 

CAPITALISMO PORTUGUÊS:

Você tem duas vacas.

E reclama porque seu rebanho não cresce…

 

CAPITALISMO HINDU:

Você tem duas vacas.

Ai de quem tocar nelas.

 

CAPITALISMO ARGENTINO:

Você tem duas vacas.

Você se esforça para ensinar as vacas mugirem em inglês…

As vacas morrem.

Você entrega a carne delas para o churrasco de fim de ano ao FMI.

 

CAPITALISMO BRASILEIRO:

Você tem duas vacas.

Uma delas é roubada.

O governo cria a CCPV- Contribuição Compulsória pela Posse de Vaca.

Um fiscal vem e te autua, porque embora você tenha recolhido corretamente a CCPV, o valor era pelo número de vacas presumidas (duas) e não pelo de vacas reais (uma).

A Receita Federal, por meio de dados também presumidos do seu consumo de leite, queijo, sapatos de couro, botões, presume que você tenha 200 vacas e para se livrar da encrenca, você dá a vaca restante para o fiscal deixar por isso mesmo…

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