quarta-feira, 29 de outubro de 2008
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Geografia: pequena história crítica
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Uma outra "pincelada" sobre a crise
FERNANDO CARDIM "Será preciso repensar um projeto para o país" O Brasil tem alguns trunfos significativos para enfrentar a crise. Ao contrário de muitos países da periferia do capitalismo, a escala do mercado interno e a existência de uma base industrial ampla e sofisticada dá boa margem de manobra à economia brasileira. Mas é preciso realmente ativar essas potencialidades, defende o economista Fernando Cardim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Redação - Carta Maior
A história da máquina revolucionária do pós-modernismo: o computador pessoal
O economista Raghuram Rajan mostra uma outra perspectiva da crise e da solução bilionária encontrada pelos países ricos
EXAME Para Raghuram Rajan, professor de finanças da Universidade de Chicago e ex-economista-chefe do FMI, o plano de 700 bilhões de dólares pode limpar os balanços dos bancos, mas não vai fazer com que eles voltem a emprestar EXAME Qual é a principal deficiência do plano americano de 700 bilhões de dólares? Rajan - O plano não tem uma estratégia explícita para os bancos levantarem mais capital. A menos que eles aumentem seu capital, o plano oferece apenas medidas parciais. O plano tenta limpar os balanços. Mas mesmo que esse objetivo seja atingido, os bancos estarão assustados demais para emprestar para as empresas. Eles provavelmente continuarão desalavancando. É preciso recapitalizar os bancos. EXAME - Quais são as chances de que a execução do plano de 700 bilhões de dólares realmente destrave os fluxos de crédito? Rajan - Depende de como ele vai funcionar. O plano do Tesouro americano tenta recapitalizar instituições financeiras de três modos diferentes. Primeiro, ao pagar acima do valor de mercado por ativos ilíquidos (os títulos podres), o Tesouro espera recapitalizar indiretamente as instituições. Segundo, ao criar um mercado para ativos ilíquidos e permitir que os preços sejam estabelecidos, ele espera que outros operadores privados entrem no mercado. Terceiro, o Tesouro provavelmente espera também que, quando os ativos ilíquidos estiverem fora dos balanços, as instituições terão balanços limpos, poderão levantar capital e se tornarão mais dispostas a emprestar. São intenções sólidas, mas, possivelmente, inconsistentes. Pagar um preço pelos títulos podres não vai ajudar o mercado a descobrir o preço real que os traders, que não têm os horizontes de longo prazo do governo, estão dispostos a pagar. EXAME - O que pode dar errado? Rajan – As instituições com os ativos mais tóxicos são aquelas que tomaram as piores decisões - razão pela qual elas têm tantos ativos ilíquidos para vender. Por isso, provavelmente estarão mais próximas da inadimplência. Embora possam conseguir o maior alívio com a venda de ativos, elas provavelmente não se recuperarão e expandirão seus empréstimos rapidamente - nem deveriam, dado seu histórico. Ao contrário, as instituições financeiras relativamente saudáveis que provavelmente têm mais capacidade de expandir os empréstimos poderão não ser as que receberão boa parte do capital adicional do plano do Tesouro pois têm poucos ativos ilíquidos para vender. EXAME – Quais são as principais mudanças na regulação que deveriam ser feitas para evitar crises similares no futuro? Rajan - Problemas de governança em bancos e a excessiva alavancagem de curto prazo estiveram no seu centro da atual crise. Essas duas causas estão relacionadas. Qualquer tentativa de impedir uma repetição deveria reconhecer que é difícil resolver problemas de governança, e, conseqüentemente, desestimular bancos a se alavancarem. Intervenções regulatórias diretas, como exigir mais capital, poderiam simplesmente exacerbar as tentativas do setor privado de contorná-las, assim como esfriar a intermediação e o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, é extremamente dispendioso para a sociedade tanto continuar salvando o sistema bancário, como deixar a economia ser arrastada para o torvelinho criado pelas crises bancárias. A despeito de seus melhores esforços, os reguladores não podem evitar problemas sistêmicos. EXAME – Não tem solução, então? Rajan – Os reguladores devem se concentrar em minimizar os custos das crises para a sociedade sem afundar a intermediação financeira no processo. A minha proposta é um seguro de capital, que garanta que o setor privado assuma a conta e reduza as conseqüências adversas de uma crise. Apesar de haver esboçado os traços gerais de como o esquema de seguro de capital poderia funcionar, existe inquestionavelmente muito mais trabalho a ser feito para ele ser implementado. Espero que outros acadêmicos, autoridades políticas e profissionais encarem esse desafio. Fonte: Portal Exame Até, Marcos.“É preciso aumentar o capital dos bancos”
| 10.10.2008
Por Eduardo Salgado
Eric Hobsbawm opina sobre a crise econômica mundial
21 de outubro, 2008 - 13h50 GMT (11h50 Brasília) O britânico Eric Hobsbawm, considerado um dos historiadores mais influentes do século 20, disse à BBC nesta terça-feira que o maior perigo da atual crise financeira mundial é o fortalecimento da direita. “A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita”, disse Hobsbawn, em entrevista à Rádio 4. O historiador marxista comparou o atual momento “ao dramático colapso da União Soviética” e ao fim de “uma era específica”. “Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.” Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”. Abaixo, os principais trechos da entrevista. Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda? Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: O capitalismo em convulsão. Há muito tempo não lia um título como esse no FT. Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram. Porque como Marx, Engels e Schumpter previram, a globalização - que está implícita no capitalismo -, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises. E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de (John Maynard) Keynes e menos de (Milton) Friedman e (Friedrich) Hayek. Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante. Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora. E em relação ao Estado como redistribuidor? O que tem sido feito até agora parece mais pragmático do que ideológico... Acho que continuará sendo pragmático. O que tem acontecido nos últimos 30 anos é que o capitalismo global vem operando de uma forma incrivelmente instável, exceto, por várias razões, nos países ocidentais desenvolvidos. No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderia levar a catástrofes a curto prazo. E para nós isto implicava quedas tremendas do FTSE (índice da bolsa de Londres), mas seis meses depois, recomeçávamos de novo. Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo e ainda mais depois de tudo, da forma com a qual o capitalismo se reformou durante e depois da guerra sob o princípio de “nunca mais” aos riscos dos anos 30. O senhor viu esses riscos se tornarem realidade: estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais? Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo. Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece. A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita. O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989? Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente. Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias. Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo. O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo? Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises”. Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante. O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava? Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia). Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado. O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados. Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos. Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média. Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelmente superior a qualquer outro lugar do mundo. E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres. Fonte: BBCBrasil.com Até, Marcos.Crise expõe perigo de fortalecimento da direita, diz Hobsbawm