quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Domínio Público

"Domínio público, no Direito da Propriedade Intelectual, é o conjunto de bens culturais, de tecnologia ou de informação - livros, artigos, obras musicais, invenções e outros - cujos direitos econômicos não são de exclusividade de nenhum indivíduo ou entidade. Tais bens são de livre uso de todos, eis que integrando a herança cultural da humanidade. Bens integrantes do domínio público podem ser objeto, porém, de direitos morais, cabendo sempre citar-lhe a autoria e a fonte" (Wikipedia)

Ou seja, aproveite a oportunidade e acesse o portal http://www.dominiopublico.gov.br para descobrir a riqueza de obras nacionais disponíveis gratuitamente.

Segundo o ministro Fernando Haddad:

"Este portal constitui-se em um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal."

Aproveite, é de graça!

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Livros gratuitos

Para aqueles que se interessam sobre a temática urbana, o Laboratório de Geografia Urbana da Universidade de São Paulo (USP) possui alguns livros virtuais disponíveis de forma gratuita. Dentre eles o livro "O Espaço Urbano" de Ana Fani Alessandri Carlos. 

Acesse agora:


Até!




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Geografia: pequena história crítica


Um clássico da geografia brasileira disponível para download no MinervaMutante. Se gostar, compre e apague o arquivo baixado. Trata-se de um bom livro de custo muito baixo e de fácil obtenção em sebos e livrarias. A disponibilização de seu conteúdo é de caráter demonstrativo, para divulgação da obra e não para nenhuma forma de enriquecimento.

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Use mas não abuse. 

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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma outra "pincelada" sobre a crise

FERNANDO CARDIM

"Será preciso repensar um projeto para o país"

O Brasil tem alguns trunfos significativos para enfrentar a crise. Ao contrário de muitos países da periferia do capitalismo, a escala do mercado interno e a existência de uma base industrial ampla e sofisticada dá boa margem de manobra à economia brasileira. Mas é preciso realmente ativar essas potencialidades, defende o economista Fernando Cardim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Ainda é cedo para antecipar o alcance transformador dos abalos sísmicos que sacudiram o sistema capitalista nas últimas semanas. Solavancos desse porte, todavia, quase sempre empurraram o debate intelectual e a luta política na periferia do capitalismo, renovando a agenda do desenvolvimento e a da democracia. 

O Brasil não figurou entre as exceções em nenhum dos grandes marcadores dessa linha do tempo que vai de 1929 à Segunda Guerra, passando pelos choques do petróleo e o do juros, nos anos 70, ao colapso da dívida externa nos anos 80, apenas para citar algumas pontos de baldeação estratégica. 

Ainda que menos vulnerável desta vez, ancorado em reservas de US$ 205 bi; e tendo conquistado a auto-suficiência energética; uma ampliação do mercado interno; renovado o leque comercial e promovido uma retomada do investimento público com o PAC, ainda assim, o país não escapará à necessidade de um aggiornamentoeconômico. 

Essa é a opinião do economista Fernando Cardim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

A discussão de um novo projeto econômico, no seu entender, tende a se impor à medida em que fica cada dia mais claro que o assoalho que sustentava a dinâmica anterior se desfez. A liquidez abundante e o comércio internacional aquecido dificilmente sobreviverão ao esfarelamento do sistema financeiro mundial.

A etapa seguinte à emergência financeira - centrada, por enquanto, no esforço para destravar os mecanismos de crédito da economia -, requisitará linhas de passagem para um outro padrão de crescimento. Carta Maior acredita que esse debate vai redefinir a agenda política do país, e fará de 2010 uma disputa histórica, marcada por forte sentido de mudança na matriz do nosso desenvolvimento. 

A seguir, excertos da conversa de Fernando Cardim com Carta Maior:

Flanco externo: o canal de transmissão da crise
"De imediato temos que nos mover entre três fogos, sendo um deles favorável: a depreciação cambial, que devolve competitividade às exportações. As duas outras linhas de tiro, porém, a recessão mundial e a reversão do fluxo de capitais - que não apenas afasta novos investidores, como gera saída líquida de recursos - sugerem, à primeira vista, um retorno ao velho padrão de vulnerabilidade externa. De forma recorrente, ele tem abortado o desenvolvimento na periferia do capitalismo em períodos de reversão do ciclo de liquidez e juros baixos no plano mundial. Porém, desta vez, há complicadores adicionais".

Fator China, o limite que não existia
"Embora disponha de reservas cambiais significativas – diferente do que aconteceu no governo Fernando Henrique, por exemplo,quando o país quebrou três vezes - o reposicionamento externo da economia nesta crise terá que ser pensado de forma mais abrangente. O fator China delimitará significativamente o passo seguinte da industrialização brasileira. Já era assim antes da explosão da bolha, mas o problema agora é que os chineses também vão se tornar mais agressivos comercialmente. Tentarão, inclusive, ganhar mais espaço no mercado interno brasileiro". 

As diferenças entre 1929 e 2008
"Durante o ciclo de industrialização que sucedeu à crise mundial de 1929, a China sequer era um país e tinha pouco impacto econômico no curso brasileiro. O Brasil pode, então, deslanchar um projeto de industrialização substitutiva de importações que mudou o porte e a complexidade de sua economia. Hoje temos uma base industrial ampla e diversificada. Nesse sentido estamos melhores. Acontece que a China também mudou. E proporcionalmente mais que nós. Tornou-se um competidor agressivo no mercado mundial, com um leque amplo de produtos que incluem desde industrializados de baixo preço, até linhas mais sofisticadas como bens de capital e produtos eletrônicos modernos. Sua mão-de-obra é das mais baratas do mundo. A escala demográfica do país projeta o horizonte dessa exploração para anos à fio".

"Com apenas 20% da população no setor moderno da economia, a China já reúne 300 milhões de pessoas - mais que um Brasil inteiro - produzindo com os olhos voltados fixamente no mercado mundial. E tem de sobra um exército de reserva de 750 milhões de pessoas, que costuram manufaturados até com o dente, se preciso, para ganhar algum dinheiro". 

Chineses marcam o campo todo do comércio mundial
"No passado, cada vez que um país pobre se desenvolvia, galgando posições no processo industrial, deixava para trás um espaço vazio que podia ser ocupado por outros. Sempre foi assim e o próprio Brasil se aproveitou dessas “aberturas” para investir em manufatura de baixo preço, como tecidos, sapatos e alimentos industrializados. Com a China a regra do jogo mudou. Ela vai para frente mas não abre um buraco atrás. A China marca o campo todo do comércio mundial: vende de sapatos a bens de capital, moda e microeletrônica. Os chineses agarram o filé mas também não soltam o osso".

"Esse padrão é totalmente novo. E deve se aprofundar com a crise colocando algumas provas cruciais à industrialização brasileira parasuperálo. Com a retração do mercado norte-americano, os chineses tentarão, inclusive, avançar sobre o terreno já conquistado pelo Brasil no seu próprio mercado" (NR: para desovar a produção que não conseguem mais vender aos EUA e Europa, fabricantes chineses de calçados estão oferecendo descontos de preços de 40% a 50% a importadores brasileirso -- Valor Econômico de 17-10).

Quem atrelou o destino ao mercado norte-americano derrete 
O Brasil tem a sorte de haver resistido às propostas de livre comércio tão festejadas nos anos 90. Países como o México, por exemplo, que transformaram sua indústria em maquiladora para vender aos EUA, serão esfareladas pelo acirramento da concorrência gerada pela retração mundial. As maquiladoras mexicanas não têm como enfrentar a concorrência chinesa, mesmo estando na fronteira com os EUA. O México sofrerá muito, também, com a queda nos preços do petróleo. Está emparedado.

Repensar um projeto para o Brasil 
"O que sobra para o Brasil? Temos trunfos significativos. Ao contrário de muitos países da periferia do capitalismo, a escala do mercado interno e a existência de uma base industrial ampla e sofisticada dá boa margem de manobra à economia brasileira. Mas é preciso realmente ativar essas potencialidades. Como? Esse é o debate que tomará força a partir de agora". 

Um recorte keynesiano/gaullista para a economia
"Eu diria que vamos precisar de um projeto de recorte keynesiano/gaullista. Trata-se de assegurar o mercado interno para o investimento interno brasileiro. Todas as brechas devem ser acionadas. Os limites de proteção autorizados pela OMC devem ser ativados; e outros devem ser pensados. Ademais, é preciso dar ao PAC a verdadeira dimensão de um projeto reestruturante, com estratégia corajosa de expansão e consolidação do mercado interno".

Indução pública do investimento sem depender de poupança externa
"A liquidez externa vai secar. Mas a verdade é que o Brasil não precisa e não deve depender de poupança externa. Temos potencial mobilizável para manter uma taxa de investimento alta na economia. Obviamente, com juros reais de 8% ao ano, fica difícil, como se viu até agora. Mas o país pode e deve reposicionar seus instrumentos de política econômica: a) além de baixar os juros, é preciso dar ao BNDES o capital que for necessário para que o banco possa arrastar o restante dos investidores privados em direção a projetos produtivos. Poucos países do mundo têm um trunfo como o do BNDES, não se pode desperdiçá-lo; b) é necessário promover uma reforma no mercado de capitais para induzir recursos ao setor produtivo; c) é indispensável atrelar a política fiscal firmemente a um plano de investimentos em infra-estrutura".

O risco do déficit em transações correntes 
Ao mesmo tempo, temos que fechar o flanco externo ou logo teremos problemas nas contas correntes. A primeira providência é mudar a política do BC. Nos últimos anos, uma política de juros absurda inundou o país de capitais externos sobrevalorizando o Real. As importações baratearam enquanto perdíamos, simultaneamente, competitividade externa.O descompasso comercial era compensado pelo ingresso de capitais voláteis atrás dos juros oferecidos pelo BC. Essa mecânica se esgotou. Já temos sinais de saída de dólares para cobrir posições e prejuízos no exterior. Do jeito que vai em um ano estaremos pagando importações com dinheiro de reserva e não com a venda de produtos. É imperioso deter essa dinâmica. O baque do Real ajuda, mas é necessário dar estabilidade às cotações e sintonizar a taxa de juros à nova realidade macroeconômica".

Integração sul-americana não virou abraço dos afogados
"Alguns países da América do Sul vão sentir duramente a crise, caso do Equador e da Venezuela, atingidos em cheio pela queda nos preços do petróleo. O Chile será abalroado pelo mergulho das cotações do cobre. A Argentina, que já vinha com problemas, mesmo ancorada nos preços altos das commodities agrícolas, viverá ajustes inevitáveis. Seria precipitado, porém, dizer que a crise reduz a agenda da integração sul-americana a um abraço dos afogados. Não creio. Dependerá muito do Brasil. A exemplo do que fez Alemanha no caso da União Européia, cabe a nossa liderança garantir um guarda-chuva político e econômico aos parceiros regionais nesse momento. Afinal, interessa ao Brasil que o mercado sul-americano seja preservado".

"Dificuldades e assimetrias sempre existiram, mas agora talvez fique até mais fácil a condução política da agenda regional. Chávez, que disputava a liderança do processo com Lula, perderá densidade nas negociações proporcionalmente à redução das receitas com petróleo, sua principal arma de convencimento. Em relação à Argentina, se é verdade que o Brasil deve conter “radicais” que negam legitimidade a sua reindustriualização, o tom, do lado de lá, deve ficar mais amistoso. Sem o apoio do Brasil a Argentina certamente pagaria mais caro o ajuste cobrado pela crise. Espanta-me apenas o Equador. Numa hora como essa, seu governo age de maneira atabalhoada, como se não medisse as conseqüências do isolamento em relação ao Brasil. Parece mesmo desdenhar o contrapeso que a integração regional pode exercer para mitigar a crise". 


Fonte: CARTA MAIOR

Até!

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A história da máquina revolucionária do pós-modernismo: o computador pessoal

Acredito que essa pequena historieta sirva como contextualização para a apreciação do vídeo abaixo. De qualquer forma pode ser de alguma valia.

Quando se pensa na história do computador e da Internet, observa-se que, apesar de muitos equipamentos terem aparecido bem antes, eles surgiram em torno dos anos 40 do século passado e eram enormes, ocupando vários metros quadrados. Esses equipamentos passaram por uma grande evolução, que pode ser dividida em gerações. Cada geração é caracterizada pelo desenvolvimento tecnológico no modo como o computador opera, resultando em equipamentos cada vez menores, mais poderosos, eficientes rápidos,e baratos.

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 Primeira geração (em torno de 1940-1959)

Os computadores eram lentos, enormes, ocupavam salas inteiras e tinham muitos metros de fios, eram equipadas com válvulas eletrônicas e gastavam muita energia, sua operação era muito cara e esquentavam muito, o que era, freqüentemente, a causa de mau funcionamento, usavam linguagem de máquina para executar operações, só podendo resolver um problema de cada vez, a memória baseava-se em cilindro magnético, a velocidade de processamento era da ordem de milissegundos e a capacidade de memória era de 2 a 4 kbytes, a entrada de dados era feita por meio de cartões ou fita de papel perfurados, a saída de dados era feita por impressoras, não existia sistema operacional. Os programadores eram operadores e controlavam o computador por meio de chaves, fios eluzes de aviso.

Exemplos: ENIAC, UNIVAC

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 Segunda geração (1959-1964)

 Houve a substituição das válvulas eletrônicas por transistores e os fios de ligação por circuitos impressos, o que tornou os computadores mais rápidos, menores, e de custo mais baixo. Mas ainda esquentavam muito. Mudança da linguagem de máquina binária para as linguagens simbólicas, como FORTRAN, que permitiram que os programadores especificassem instruções em palavras, a memória passou de cilindro magnético para a tecnologia do núcleo magnético, a velocidade de processamento era da ordem de milissegundos a capacidade de memória era de 20 megabytes, surgiram os primeiros armazenadores externos de informações: fitas magnéticas e discos, a entrada de dados era feita por cartões ou fita de papel perfurados, a saída de dados era feita por impressoras,  foram criados os sistemas em lote, "batch systems", que possibilitaram um melhor uso dos recursos computacionais. Havia um programa monitor, usado para "enfileirar" as tarefas. Cada programa era escrito em cartões ou fita de papel perfurados, que eram carregados por um operador, juntamente com seu compilador. O operador em geral utilizava uma linguagem de controle chamada JCL (job control language).

Exemplos: TRADIC, IBM TX-0

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 Terceira geração (1964-1970)

 Os computadores passaram a ter circuitos integrados, sendo que os transistores foram miniaturizados. Estes aumentaram a velocidade e a eficiência das máquinas, proporcionando redução tanto dos custos como da velocidade de processamento. Sendo menores e mais baratos tornaram-se acessíveis para um grande número de pessoas,  teclados e monitores substituíram os cartões e papel perfurados,  o sistema operacional passou a permitir que muitos programas pudessem ser executados ao mesmo tempo (multitarefa), inclusive monitorando a memória,  a velocidade de processamento era da ordem de microssegundos.

Exemplos: DCC 6600, Nova

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 Quarta geração (de 1970 até a época atual)

 o microprocessador, com milhares de circuitos integrados em um único "chip" de silicone, proporcionou maior grau de miniaturização, confiabilidade e velocidade, já da ordem de nanosegundos (bilionésima parte do segundo), outros equipamentos começaram a usar os microprocessadores, iniciou-se a ligação dos computadores em redes o que conduziu ao desenvolvimento da Internet, houve o desenvolvimento da interface gráfica - GUI, "Graphical User Interface" - baseada em símbolos visuais, como ícones, menus e janelas que promoveram maior interação entre o sistema e o usuário, a velocidade de processamento era da ordem de nanossegundos,  apareceram linguagens múltiplas de programação como Cobol, Pascal, Basic, começou a transmissão de dados entre computadores através de rede,  intensificou-se a produção de computadores objetivando o usuário doméstico.

Exemplos: Lisa, MacIntosh, IBM 5150, 386

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 Quinta geração (época atual e futuro)

 o objetivo é desenvolver equipamentos que respondam à entrada de dados por voz e que sejam capazes de aprendizagem e de organização,  altíssima velocidade de processamento,  grande capacidade de armazenamento de dados dos discos rígidos (de 40 e 80 GBs já eram comuns em lojas brasileiras no início de 2007), o DVD pode acumular uma quantidade dez vezes maior de dados do que o CD-rom,  alto grau de interatividade, inclusive com reconhecimento de voz por alguns aplicativos  o uso de processamento paralelo e de supercondutores.
está impelindo o surgimento da "inteligência artificial".

Mais informações:


Seria o futuro do computador representado por este vídeo?





Assim veremos!

Até!

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O economista Raghuram Rajan mostra uma outra perspectiva da crise e da solução bilionária encontrada pelos países ricos

“É preciso aumentar o capital dos bancos”

 | 10.10.2008

Por Eduardo Salgado

EXAME Para Raghuram Rajan, professor de finanças da Universidade de Chicago e ex-economista-chefe do FMI, o plano de 700 bilhões de dólares pode limpar os balanços dos bancos, mas não vai fazer com que eles voltem a emprestar

EXAME Qual é a principal deficiência do plano americano de 700 bilhões de dólares?

Rajan - O plano não tem uma estratégia explícita para os bancos levantarem mais capital. A menos que eles aumentem seu capital, o plano oferece apenas medidas parciais. O plano tenta limpar os balanços. Mas mesmo que esse objetivo seja atingido, os bancos estarão assustados demais para emprestar para as empresas. Eles provavelmente continuarão desalavancando. É preciso recapitalizar os bancos.

EXAME - Quais são as chances de que a execução do plano de 700 bilhões de dólares realmente destrave os fluxos de crédito?

Rajan - Depende de como ele vai funcionar. O plano do Tesouro americano tenta recapitalizar instituições financeiras de três modos diferentes. Primeiro, ao pagar acima do valor de mercado por ativos ilíquidos (os títulos podres), o Tesouro espera recapitalizar indiretamente as instituições. Segundo, ao criar um mercado para ativos ilíquidos e permitir que os preços sejam estabelecidos, ele espera que outros operadores privados entrem no mercado. Terceiro, o Tesouro provavelmente espera também que, quando os ativos ilíquidos estiverem fora dos balanços, as instituições terão balanços limpos, poderão levantar capital e se tornarão mais dispostas a emprestar. São intenções sólidas, mas, possivelmente, inconsistentes. Pagar um preço pelos títulos podres não vai ajudar o mercado a descobrir o preço real que os traders, que não têm os horizontes de longo prazo do governo, estão dispostos a pagar.

EXAME  - O que pode dar errado?

Rajan – As instituições com os ativos mais tóxicos são aquelas que tomaram as piores decisões - razão pela qual elas têm tantos ativos ilíquidos para vender. Por isso, provavelmente estarão mais próximas da inadimplência. Embora possam conseguir o maior alívio com a venda de ativos, elas provavelmente não se recuperarão e expandirão seus empréstimos rapidamente - nem deveriam, dado seu histórico. Ao contrário, as instituições financeiras relativamente saudáveis que provavelmente têm mais capacidade de expandir os empréstimos poderão não ser as que receberão boa parte do capital adicional do plano do Tesouro pois têm poucos ativos ilíquidos para vender.

EXAME – Quais são as principais mudanças na regulação que deveriam ser feitas para evitar crises similares no futuro?

Rajan - Problemas de governança em bancos e a excessiva alavancagem de curto prazo estiveram no seu centro da atual crise. Essas duas causas estão relacionadas. Qualquer tentativa de impedir uma repetição deveria reconhecer que é difícil resolver problemas de governança, e, conseqüentemente, desestimular bancos a se alavancarem. Intervenções regulatórias diretas, como exigir mais capital, poderiam simplesmente exacerbar as tentativas do setor privado de contorná-las, assim como esfriar a intermediação e o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, é extremamente dispendioso para a sociedade tanto continuar salvando o sistema bancário, como deixar a economia ser arrastada para o torvelinho criado pelas crises bancárias. A despeito de seus melhores esforços, os reguladores não podem evitar problemas sistêmicos.

EXAME – Não tem solução, então?

Rajan – Os reguladores devem se concentrar em minimizar os custos das crises para a sociedade sem afundar a intermediação financeira no processo. A minha proposta é um seguro de capital, que garanta que o setor privado assuma a conta e reduza as conseqüências adversas de uma crise. Apesar de haver esboçado os traços gerais de como o esquema de seguro de capital poderia funcionar, existe inquestionavelmente muito mais trabalho a ser feito para ele ser implementado. Espero que outros acadêmicos, autoridades políticas e profissionais encarem esse desafio.


Fonte: Portal Exame


Até, Marcos.

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Eric Hobsbawm opina sobre a crise econômica mundial

21 de outubro, 2008 - 13h50 GMT (11h50 Brasília)

Crise expõe perigo de fortalecimento da direita, diz Hobsbawm

O britânico Eric Hobsbawm, considerado um dos historiadores mais influentes do século 20, disse à BBC nesta terça-feira que o maior perigo da atual crise financeira mundial é o fortalecimento da direita.

“A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita”, disse Hobsbawn, em entrevista à Rádio 4.

O historiador marxista comparou o atual momento “ao dramático colapso da União Soviética” e ao fim de “uma era específica”.

“Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.”

Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?

Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: O capitalismo em convulsão. Há muito tempo não lia um título como esse no FT.

Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram.

Porque como Marx, Engels e Schumpter previram, a globalização - que está implícita no capitalismo -, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises.

E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de (John Maynard) Keynes e menos de (Milton) Friedman e (Friedrich) Hayek.

Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante.

Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora.

E em relação ao Estado como redistribuidor? O que tem sido feito até agora parece mais pragmático do que ideológico...

Acho que continuará sendo pragmático. O que tem acontecido nos últimos 30 anos é que o capitalismo global vem operando de uma forma incrivelmente instável, exceto, por várias razões, nos países ocidentais desenvolvidos.

No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderia levar a catástrofes a curto prazo. E para nós isto implicava quedas tremendas do FTSE (índice da bolsa de Londres), mas seis meses depois, recomeçávamos de novo.

Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo e ainda mais depois de tudo, da forma com a qual o capitalismo se reformou durante e depois da guerra sob o princípio de “nunca mais” aos riscos dos anos 30.

O senhor viu esses riscos se tornarem realidade: estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?

Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo.

Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece.

A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.

O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989?

Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente.

Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias.

Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.

O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?

Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises”.

Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante.

O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?

Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia).

Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado.

O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados.

Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos.

Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média.

Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelmente superior a qualquer outro lugar do mundo.

E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.


Fonte: BBCBrasil.com


Até, Marcos.

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